surtei foi de fascínio
foi de ver os lábios ressecados serem banhados pela água do copo
em um simples gesto de secura
e de em seguida esquadrinhar a geografia do sorriso minado
foi de engolir a seco o até logo ainda que melindrando a partida
e também de ter presenciado os olhos aguarem por dor de amor
de saudade
e de como negou se entregar a esse desfecho
temendo não mais voltar do abismo que ele oferecia
surtei foi de vontades
de alisar suas as faces com as costas das minhas mãos vazias
que nelas houvesse o mapa que desse no carinho que necessitava
que o gesto fosse de riqueza apaziguadora
e que do abraço vertesse essa poesia que jamais consegui decifrar
compartilhamento
e o tempo fosse embalado pelos bons ventos
que chovesse girassóis
que desse frutos no jardim
que avermelhasse de pôr do sol esse dia
surtei também de tristeza
de parecer infinito e sem brandura esse caminho
por ter no bojo da minha alma a fadiga aninhada
de temer o começo do fim dessa benquerença
de intensidade que sei
dará em saudade que jamais partirá
e de velar a realidade na crueza das restrições
surtei de esperança
porque não há como negar a beleza do abrir os olhos
o gosto de tomar café quente em dia frio
as gargalhadas dos amigos depois de contarmos uma piada sem graça
e porque me volta
e sempre
a lembrança de como fala tão manso
como se entoasse uma canção que
ainda que repetida
soaria inédita
uma canção de afetos